It might be surprising that an artist as young as Sofia Arez should depict such sombre characters as fetuses and fleshless individuals.
However, a closer look at these figures reveals a much deeper sense of reality.
These are creatures that inhabit a transitional world, before and beyond terrestrial existence.
They live where sound does not reach. They are enveloped in umbilical cords, placentas, and other protective encasings. And their transition represents a preparation. The learning of new games, the learning of silence, the preparation for the return.
Some like fetuses, exist without conscience. Others, very conscious, inhabit another plane.
All await the coming of life by the light of the sun.
Some paintings stress this idea even further: they not only represent a traditional world, but are themselves true passageways. «Metamorphoses», seems to show individuals singing hymns of praise, helping another one pass through the tunnel, as if saying «do not be afraid», «we are with you», «do not look back».
Likewise in «Rites of Passage» they seem to echo the words «we want to return…
In these paintings we behold the metamorphosis of the spirit, the alchemy of the souls, the secret life of the humans, that the easterners call the «cycle of reincarnation».
Some fetuses go beyond the human. They take us back to the cosmic sleep, to the unmanifested void, which precedes creation. Or they appear protected, buried deep within the Earth, surrounded by tectonic plates as if to represent the origins of a new race, more in contact with the collective unconscious.
It is inevitable to compare the works of Sofia Arez with the Egyptian and Tibetan «Books of the Dead».
Because her works serve not only to free the artist’s memories, but go far beyond that to explain the meaning of life, why we are here, and the importance of death.
This would explain the artists depiction of «angels», evoking the style of Odilon Redon.
These are pensive, mysteriously still characters awaiting the Word of God. They are not yet light, but remain «spirits», somewhat grey and opaque, not yet freed from future.
All these characters are depicted as unclear and poorly defined, encased in dark and gloomy cocoons, where their velvet gestures portray the state of fusional osmosis or larval non-differentiation of those who know the rivers of oblivion.
However, it is «Estados de Alma» that is the key to the whole of this succession.
It portrays two fleshless, man and a woman bodies with animal-like feet.
It reveals the metaphor that shows, because it demonstrate that all these creatures are humans and adults like us, who live in a world of shadows where nobody is really what he or she is.
Ritos de Passagem
Poder-se-á estranhar que uma tão jovem artista como Sofia Arez se dedique a expressar personagens tão penumbrais como fetos e seres descarnados.Mas se atentarmos bem nas suas figuras veremos que são metafóricas de outra realidade mais visível e actual. São seres que vivem em mundos transitórios, antes e depois da vida terrena.
Que vivem onde os ruídos não chegam, seres envolvidos por cordões umbilicais, placentas e outros círculos protectores. E a sua transição é também uma preparação.Aprendizagem de novos jogos, aprendizagem do silêncio, preparação para o regresso.Uns existem sem grande consciência, como os fetos, os outros, muito conscientes, não existem já neste plano. Ambos esperam a vida à luz do sol.
Alguns dos quadros acentuam ainda mais estas ideias; não só representam mundos transitórios, mas são verdadeiras passagens. É caso de uma pintura onde alguns seres parecem entoar litanias para ajudar um outro a fazer uma passagem pelo túnel, como se lhe dissessem: «nada temas», «estamos contigo» ou «não olhes para trás», bem como noutra pintura onde o ambiente é o de que «queremos voltar»…
No fundo assistimos, às metamorfoses do espírito, à alquimia das almas, a uma vida secreta dos seres humanos a que os orientais chamam o «ciclo da reencarnação». Alguns fetos vão mesmo mais longe do que o humano; dão-nos a sensação de regresso ao sono cósmico, ao vazio imanifestado que antecede a criação, ou aparecem-nos protegidos, enterrados, nas profundezas da Terra, rodeados de placas tectónicas, como se prefigurassema gestação de uma nova raça, mais em contacto com o consciente colectivo.
E parece-nos inescapável a comparação das obras de Sofia Arez com os «livros dos mortos» egípcios e tibetano. É que a sua função não é somente libertar as memórias da artista, mas sobretudo ajudar a explicar a nossa vida, a razão porque aqui estamos, a relatividade da morte. Daí o aparecimento de alguns «anjos», pintados de uma forma evocadora de Odillon Redon. São anjos pensativos e misteriosamente parados, à escuta da palavra de Deus. Também eles são anjos que ainda não são completamente luz; são mais «espíritos», que ainda retêem algo de opaco e cinzento, ainda não libertos do futuro.
Dir-se ia que todas as figuras são seres algo informes e indefinidos, que vivem dentro de casulos escuros e coalhados, onde os seus gestos aveludados delimitam o estado de osmose fusional ou indiferenciação larvar de quem conhece os rios do esquecimento.
Mas é «Estados de Alma» que surpreendentemente nos dá a chave de toda esta sucessão. Nela vemos os corpos de um homem e de uma mulher descarnados, tapados, com pés que parecem de animal. Neles se revela a metáfora, pois nos mostam que todos os outros, os outros seres são também adultos como nós, que vivemos neste mundo de sombras, em que nunca somos o que somos. Seres que nos protegemos do espontâneo, do luminoso e do rápido.
Seres que iludidos pelo «ter» e pelo «querer ser mais ou diferente», nos condenamos a esperar eternamente que o destino nos chame e nos revele, seres sem centro em busca de relações fusionais. Seres em encarnação progressiva.