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In the Place of Another: The Contemplative Poetics of Sofia Arez
Diogo Teixeira, 2014

Abandonment is a display of the work resulting from an artist residency at Fundação Oriente in Macau. The exhibition comprises a set of drawings, paintings and a video installation showing fragments of trees. Fragments that are comparable to what a human being is to the universe: he can never understand it or fill it at all; remnants in mutation, something open, incomplete. A non-place with the potential to become a place of encounter.

Sofia Arez’s painting has a performative bio-logic. Her works are like the vicissitudes of life, and can be seen in different ways, in different days. They may be sad, melancholic or, on the other hand, seek the light. Through the opacity resulting from overlapping branches and leaves there is always a memory of hours of light. A transparency that grows with time, guessing the light through matter. A diffuse confidence in what is beyond the surface of things, of the world.

One can intuit that there are many plots, many possibles. Memory and hope meet in the materiality of this painting, in the texture, in the thickness reflecting the working process of the artist: from repetition to difference. Even if you have to paint over, one or more times to find the meaning in another moment, the next day, the next week. A beginning, a middle and a threatened end that is beginning.

A spark of life that unfolds through the movement of branches and leaves. Just so, the act of recreating: the exercise of repeating the movement of painting that seeks in the next canvas to continue a dialogue with the former, turning the artistic making in a process similar to the passage of time in life itself and in the way of life as an artist, and thus building the place where art and life meet.

The video installation consists of a continuous projection of fifteen photographs of the canopy of a tree seen from below. This sequence corresponds to fifteen moments of the day, from dawn to dusk. The projection is performed in a horizontal surface suspended from the ceiling. The option for the elevated projection seems to reflect the point of view of the photography and is cause of discomfort and effort.

The projection room is accessible by two passages, which reduce the intensity of the external light, making possible the screening inside. The selected space provides an experience of seclusion that suggests an inner journey. Despite being an area of passage, condition underlined by two doors, it suggests a pause for contemplation and transformation in tune with the nature of the images.

Sofia Arez seems to seek in her making a sense for this same making. What she seeks are neither forms nor a more subjective expression, nor a new grammar, but an attitude, a possibility for art to have a liberating function for the human being and the world. An exercise within and beyond consciousness that promotes the encounter of a proper meaning for existence.

This work also has something of a pilgrim, as it traverses a path from one point to another, knowing that what is essential is the disposition and not the destination itself. This is the definition of a contemplative poetics, focused in a deed stripped of self, of fear and desire. She presents us, therefore, multiple natures, focused on total experience, not of one but of the whole, which are specific windows for Malevich’s 'desert', where nothing is real except feeling.

The purpose is not to reveal some kind of hidden meaning or implicit symbolics but an exploration of how, through a sensitivity for the possibilities of image, it is possible to transcend the confines of its traditional uses and facilitate in its perceiver the freedom to engage that allows for the individual’s own sensitivity and un/sub/conscious mind to take an active role in creating a personal relationship and meaning.

Abandonment gives us clues to experience the cyclical passage of time free of human presence. It proposes to imagine a narrative that follows the hopes and efforts of interpretation of who experiences it. In this process the density of time is critical. Each image corresponds to a disposition to silence or absence, which is adopted and fulfilled by those who live it, in a creative effort required to achieve an undetermined end.

從他人的位置: Sofia Arez 的靜觀創作

“遺棄 是作者於澳門東方基金會,擔任駐會藝術家期間,而成的作品展。展品包括一系列的繪圖、油畫及影像,捕捉“樹”的不同部份。像對比人類和宇宙之間的關係一樣:他永遠不能夠理解或填滿宇宙的所有; 進化的殘餘品、未完成、不完整的。處於一個有潛力,但未發生的地方相遇點。

索菲的繪畫具有人性化的表演性生物邏輯。她的作品擁有生命的滄桑情感,並可從多角度、不同時間去欣賞。他們可能是傷心、憂鬱。或者在另一方面,尋求光明。通過重疊樹枝和葉的不透明,光總是有一點曾經亮過的感覺 。一種續漸隨著時間的推移而清晰的感覺,從猜謎到透明,有信心看透,超越表面事情的事物感觀世界。

人們可以用直覺,感受到作品內在,有許多的情節、記憶。透過當中使用的物料、質感、厚度,反映了藝術家工作過程許多情節:重複到編差。甚至感受到,有需要把作品重新油漆過,一次或多次,才能尋找此刻、明天、下週真正的意義。瞬間從開始至中間,從中間到結束,即受到結束威脅的開始。

生命的火花,透過枝葉的優雅動作而擦亮。“再創造”

就如藝術家在畫布上,重複畫筆尋求繼續畫布之間的對話,活生生的藝術製作,對比一個藝術家的藝術過程,就是生活的一種方式。與時間生活的一同流逝,並從藝術家的創作中,體現到藝術和生活的交接點。

視頻安裝包含連續放影15張的投影片,從樹下向上觀望。投影片的序列應對一天內,從黎明到黃昏的15個不同的時刻。投影平面是與天花平衝, 懸掛天花板的平面上投影。該高架投影,反映出攝影師拍照投影片的捕捉點。使觀看者身同感受。

投影室是由兩個通道進入,從而降低外部光線的亮度,使得能夠在內投影。該空間提供隱居的感覺,一個內在的旅程體驗。儘管是通道的區域中,強調了兩個門口,表明了藝術家的意向,使觀看者先停下,沉思,收拾心情,把心態與圖像的性質一致。

索菲似乎徵求醞釀了,同樣的這種意景。她藝術的目的,不是多形式的主觀表達,也不是創造新的藝術手法,而是一種態度, 是透過藝術世界而解放人類的一種功能。行使內外意識,促進及反映存在中應有的真正意義。

同時這項工作,是一項個人朝聖旅程,因為它穿越了一個路徑,從一點到另一點,而重要的不是終點,而是過程。是沒有自我、恐懼和慾望的沉思詩學。藝術家透過多種感觀,以體驗為中心,像Malevichs“沙漠”所述的窗口,維一真實的是感覺。

是次作品展,不是揭示某種隱藏的含義或暗示的符,主要是提高人們對於圖像的敏感度,說明圖像的不同可塑造性,超越傳統用途的範圍,並促進勘探其知覺的自由,允許個人自己的潛在意識積極建立個人關係和意義的作用。

“遺棄” 在沒有人類影響的大前題下,給予我們體驗時間的存在。它提出的意景敘述和藝術解釋,應該由體驗者的想像和希望形成。在這過程中, 時間的密度是最重要的。每個圖像對應不同沉默或不存在的一刻,通過對圖像的經力和感受,創造一個不確定的個人體驗。

No Lugar do Outro: A Poética Contemplativa de Sofia Arez

Abandono é uma mostra do trabalho resultante de uma residência artística na Fundação Oriente em Macau. A exposição compreende um conjunto de desenhos, pinturas e uma instalação-vídeo em que são dados a ver fragmentos de árvores. Fragmentos que são comparáveis ao que o ser humano é para o universo, nunca o pode compreender nem preencher em absoluto. Resquício em mutação, algo em aberto, incompleto. Um não-lugar com o potencial de se tornar lugar de encontro.

A pintura de Sofia Arez tem uma bio-lógica performativa. As suas obras são como as vicissitudes da vida, podem ser vistas de diversas formas, nos diversos dias. Podem ser tristes, melancólicas ou, por outro lado, procurar a luz. Através da opacidade que resulta da sobreposição de ramos e folhas há sempre uma memória de horas de luz. Uma transparência que cresce com o tempo. Que adivinha a luz através da matéria. Uma confiança difusa no que está para além da superfície das coisas, do mundo.

Pode-se intuir que há muitas tramas, muitos possíveis. A memória e a esperança cruzam-se na materialidade desta pintura, na textura, na espessura que reflecte o processo de trabalho da artista: da repetição até à diferença. Mesmo que tenha que pintar por cima, uma ou mais vezes, para encontrar o sentido, num outro momento, no dia seguinte, na semana seguinte. Um princípio, um meio e um ameaço de fim que é princípio.

Uma centelha de vida que se descortina através do movimento dos ramos e das folhas. Basta, por isso, o acto de recriar: o exercício de repetição do movimento de pintar que procura na pintura seguinte continuar um diálogo com a anterior, transformando o fazer artístico num processo semelhante à passagem do tempo na própria vida e modo de viver como artista e construindo, assim, o lugar onde arte e vida se encontram.

A instalação-vídeo consiste numa projeção contínua de quinze fotografias da copa de uma árvore vista de baixo. Esta sequência corresponde a quinze momentos do dia, da aurora ao crepúsculo. A projecção é realizada numa superfície horizontal suspensa do tecto. A opção pela projecção elevada parece refletir o ponto de vista da fotografia e é motivo de desconforto e esforço.

A sala de projecção é acessível por duas passagens que reduzem a intensidade da luz exterior, viabilizando o visionamento no seu interior. O espaço escolhido proporciona uma experiência de recolhimento que sugere uma viagem interior. Apesar de ser um espaço de passagem, condição sublinhada pelas duas portas, sugere uma paragem para contemplação e transformação, em sintonia com a natureza das imagens.

Sofia Arez parece procurar no fazer um sentido para esse mesmo fazer.  O que busca não são nem as formas, nem uma expressão mais subjectiva, ou uma nova gramática, mas uma atitude, uma possibilidade para a arte de ter uma função libertadora para o ser humano e para o mundo. Um exercício aquém e além da consciência que promove o encontro de um sentido próprio para a existência.

Este trabalho tem também algo de peregrino, pois percorre um caminho de um ponto até outro, sabendo que o essencial é a disposição com que o faz e não o destino em si. Esta é a definição de uma poética contemplativa, focada num fazer despojado de si, do medo e do desejo. Apresenta-nos, por isso, naturezas multíplices, focadas na experiência total, não de uma mas do conjunto, que são janelas concretas para o ‘deserto’ de Malevich, onde nada é real excepto o que é sentido.

Não se trata de revelar algum tipo de significado oculto ou simbólica implícita mas de uma exploração de como, através de uma sensibilização para as possibilidades da imagem, é possível transcender os limites do seu uso tradicional e permitir ao observador a liberdade de se envolver, deixando a sensibilidade in/sub/consciente própria do indivíduo assumir um papel activo na criação de uma relação e significado pessoais.

Abandono dá-nos pistas para experimentar a passagem cíclica do tempo isenta da presença humana. Propõe-se imaginar uma narrativa que resulta da espera e do esforço de interpretação de quem a experimenta. Neste processo é fulcral a densidade do tempo. A cada imagem corresponde uma disposição ao silêncio ou à ausência que é adoptada e preenchida por quem a vivencia, num esforço criativo necessário para atingir um indeterminado fim.