Sofia Arez looks the world populated by people. In lieu of the indifference or the empty, the artist prefers to question the singularities. There are many ways, many attitudes, many circumstances, but to her it is the present time that matters. What influences? What memories? The painter hesitates. If some want to find contact points, inspirations, Sofia Arez prefers to say that she seeks her own path, which is evolving in slow and steady steps. Before a world with a thousand signs difficult to decipher, the painter paints perplexity. And within this relationship with the unexpected and the uncertain there are advances and setbacks – now the silhouettes, now the glances. And yet, between anonymity and identity, it’s all about understanding the world and life. And to understand here means not only to know but also to comprehend, finding out and seeking to reach out to others. Perplexity is, after all, an attempt to overcome the barriers of doubt and misunderstanding. The idea of wait signifies this attempt, this demand – between memory and attention to the present. And the viewer of this painting is finding new reasons to discover the signs of the time. In the indifference and anonymity, Sofia opposes human uniqueness, a certain form of artistic vitalism in which the key is to meet the being who lives, whose existence works as a mirror of our own existence. The painter looks at us through her paintings, because we are the raw material that the author wants to work and understand, to better understand herself. Paint a world of people is, however, much more than to engage in a world with people because it comes to represent the human life that we share. I mentioned that it’s idle, at the moment, to look for influences or parallels. I feel, however, that Sofia’s visit to Florence left marks in the rigor of trace, in the definition of faces and bodies, in the balance of form, and in the harmony of tones and colour. It is a diffuse mark. The author recognizes it, but prefers not to venture into examples because in Florence, in the place where Stendhal suffered the rare disease of beauty and art, rather than the specific examples, there is the general atmosphere in which the great authors, architects, sculptors, painters, and poets mingle with the people that go to their discovery. Everything is art in the Uffizi, from the galleries of works, through the constant buzz of those looking for wonder. In a word, these are the various crafts that construct time. While painting a world of people, Sofia seeks us, seeks herself and comes to us, cultivating the perplexity at a crossroads between wait and hope…
Um Mundo de Pessoas
Sofia Arez olha o mundo povoado de pessoas. Em lugar da indiferença ou do vazio, a pintora prefere interrogar as singularidades. Vários são os caminhos, diversas as atitudes, múltiplas as circunstâncias, mas é o tempo presente que lhe importa. Que influências? Que reminiscências? A pintora hesita. Se há quem queira descobrir pontos de contacto, inspirações, Sofia Arez prefere dizer que procura um caminho próprio, que vai evoluindo em passos lentos e seguros. Perante um mundo com mil sinais difíceis de decifrar, a pintora pinta a perplexidade. E nessa relação com o inesperado e o incerto há avanços e recuos – ora as silhuetas, ora os olhares. E, no entanto, entre o anonimato e a identidade, do que se trata é de procurar entender o mundo e a vida. E entender aqui significa não só conhecer, mas também compreender, tentar saber e procurar ir ao encontro dos outros. A perplexidade é, afinal, a tentativa de superar as barreiras da dúvida e da incompreensão. A ideia de espera significa essa tentativa, essa procura – entre a memória e a atenção ao presente. E o espectador desta pintura vai encontrando novos motivos para descobrir nestas esperas expectantes os sinais do tempo. À indiferença e ao anonimato, Sofia contrapõe a singularidade humana, numa certa forma de vitalismo artístico em que o fundamental é ir ao encontro do ser que vive, cuja existência funciona como espelho da nossa própria existência. A pintora olha-nos através da sua pintura, porque somos nós a matéria-prima que a autora deseja trabalhar e compreender, para melhor se entender a si mesma. Pintar um mundo de pessoas é, no entanto, muito mais do que se dedicar a um mundo com pessoas, porque se trata de representar a existência humana que nos é comum. Já disse que é ocioso procurar, neste momento, influências ou paralelismos. Sinto, porém, que a visita de Sofia a Florença deixou marcas, no rigor do traço, na delimitação das figuras e dos corpos, no equilíbrio da forma e na harmonia dos tons e da cor. É uma marca difusa. A autora reconhece-o, mas prefere não se aventurar em exemplos, porque em Florença, no lugar em que Stendhal sofreu a estranha enfermidade da beleza e da arte, mais do que os exemplos concretos, há o ambiente geral, em que os grandes autores, os arquitectos, os escultores, os pintores, e os poetas se misturam com as pessoas que vão à sua descoberta. Tudo é arte nos Uffizi, desde as galerias às obras, passando pelo constante burburinho de quem procura o espanto. Numa palavra, são os vários ofícios que constroem o tempo. Ao pintar um mundo de pessoas, Sofia procura-nos, procura-se e vem ao nosso encontro, cultivando a perplexidade, numa encruzilhada entre a espera e a esperança…